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06 Jun 2025

| diretor: Porfírio Silva

EDIÇÃO DIGITAL DIÁRIA DO ÓRGÃO OFICIAL INFORMATIVO DO PARTIDO SOCIALISTA

Jovem Socialista
ABRIL É FUTURO
AUTOR

João Patrício

DATA

30.04.2024

FOTOGRAFIA

José António Rodrigues

ABRIL É FUTURO

Há 50 anos, o fósforo da esperança acendeu-se e permitiu que emergíssemos da noite e do silêncio. A ordem autoritária, as mordaças às liberdades individuais, civis e políticas, o obscurantismo e a imposição férrea da indignidade foram suplantados pela coragem de todos quantos se atreveram a desafiar a inevitabilidade da miséria e estabeleceram os alicerces para o regime democrático em que felizmente vivemos. Com a contribuição de muitas mulheres e homens, somos, há meio século, donos do nosso próprio futuro e livres de construir coletivamente o País que, em cada momento, melhor traduz as nossas expectativas, ambições e reivindicações. E, juntos, fomos capazes de construir muito.

 

Construímos um país que encerrou nos confins da História as elevadas taxas de mortalidade infantil e que hoje, permite que todos, do primeiro ao último momento das suas vidas, tenham acesso a cuidados de saúde dignos e garantidos; um país que recuperou das expressivas taxas de analfabetismo e que hoje garante o acesso à educação da creche ao ensino superior; um país em que a pobreza extrema e a falta de condições de saneamento passaram de regra a exceção e hoje garante que ninguém é condenado a viver na indignidade; um país onde todos temos os mesmos direitos e somos respeitados independentemente das nossas características ou circunstâncias.

Mas se, por um lado, Ary dos Santos nos prometeu que as portas que abril abriu ninguém seria capaz de fechar, por outro lado muitos são os que procuram fazê-lo.

Entre eles, os que procuram criar a divisão, alimentar preconceitos e acicatar ódios.

rejeitando a diferença e antagonizando-a, nomeadamente através da implantação da xenofobia e o racismo no discurso corriqueiro. Também os que procuram negar a emancipação e autonomia da mulher e colocar em causa os direitos conquistados ou ainda quem deseje limitar a possibilidade de qualquer um se realizar na exata medida dos seus projetos pessoais pela sua condição socioeconómica, origem étnica, orientação sexual ou limitação física.

É, por isso, imperativo encontrar nesta efeméride a fonte que nos permita renovar o empenho e reforçar o compromisso com a afirmação perene dos valores de abril. Mais do que celebrar o passado e afirmar o combate veemente a quem o pretende subverter, o 25 de abril de 1974 deu-nos a possibilidade de sonhar e de rasgar sucessivamente novos horizontes de esperança. É neste contexto que somos hoje convocados a pensar e antecipar o futuro, a esboçar o país e a comunidade que queremos encontrar daqui a 50 anos, em que todos possam continuar a ser livres, sem freios ou amarras de qualquer natureza.

Só continuaremos a ser plenamente livres se vivermos com saúde e, em caso de necessidade, pudermos recorrer a cuidados de qualidade, sem barreiras, que permitam prevenir e tratar enfermidades e assegurar o bem-estar físico e mental. De igual modo, só haverá liberdade se esta andar a par e passo com a igualdade no acesso à educação, que permita a todos munir-se de conhecimento e competências adequadas a enfrentar crítica e conscientemente o mundo dos nossos dias. Além disso, a liberdade não pode nunca ser desligada da autonomia e independência financeira que só o salário justo, condizente com o investimento na sua formação, esforço e o trabalho de cada um pode garantir. Mas nunca haverá liberdade se não houver um teto que nos abrigue e paredes que nos deem refúgio. A habitação digna, com condições de conforto e a preços que possam ser comportáveis encerra igualmente em si um dos principais e mais determinantes pilares de abril, decisivo para a realização do projeto pessoal de qualquer jovem.

E é precisamente por nós, jovens, que passa a missão de continuar a cumprir Abril na segunda metade de século de convivência democrática que temos por diante. Mais do que elegermos governos que pensem em nós, teremos necessariamente de pugnar por ser integrados nas esferas de decisão e que nos permitam agarrar as rédeas do futuro. Dando consequência ao nosso espírito de reivindicação, irreverência, mundividência própria e vontade de participar ativamente em sociedade. Exige-se, mais do que nunca, a valorização dos nossos pontos de vista, o atendimento aos nossos problemas e vicissitudes próprias e a procura conjunta de soluções e atalhos de esperança.

Será envolvendo as pessoas nas decisões políticas, a começar pelos jovens aqui nascidos ou acolhidos, que teremos de definir o país que queremos e a melhor forma de atender às suas sensibilidades e preocupações. Só assim teremos um Portugal moderno por inteiro, que continua incessantemente no encalço do progresso e da inovação, que valoriza os avanços tecnológicos e pretende colocá-los ao serviço da população, que respeita os recursos à nossa volta e os usa responsavelmente.

Só seremos verdadeiramente livres quando a nossa liberdade não chegar à custa da subjugação do outro nem sacrificando o meio que nos rodeia. Teremos, assim, de ser capazes de compatibilizar o respeito pela dignidade humana e pelos direitos dos nossos semelhantes com o respeito pelo território, pelo ambiente e pela natureza. Abraçaremos, portanto, o desígnio de cuidar da terra, utilizar racionalmente os recursos hídricos, apostar na mobilidade mais verde e na geração de energia através de fontes limpas.

Os desafios são muitos e o futuro é exigente, todos temos consciência disso. Contudo, neste marco maior da nossa História, saibamos sobretudo realçar os feitos que conseguimos alcançar em liberdade e neles encontrar a inspiração, o engenho e a determinação para continuar a regar as sementes de cravo deixadas no jardim de todos nós.

 

João Patrício

 

Nota: Este texto integra uma rubrica regular da responsabilidade do Jovem Socialista, órgão oficial da Juventude Socialista

 

AUTOR

João Patrício

DATA

30.04.2024

Capa Edição Papel
 
EDIÇÃO Nº1420
Março 2025