1. Há 50 anos, os Portugueses não quiseram esperar mais, despertaram do sono longo da ditadura que aprisionava e torturava vidas, que ceifava o futuro de uma geração na guerra colonial e que colocava censura e grilhetas num Portugal amordaçado e fechado ao Mundo, ao progresso e à justiça social.
Abril libertou-nos do tempo do Fascismo. Deu-nos um Tempo Democrático.
Abril libertou-nos o porvir. Deu-nos liberdade para desenhar um futuro com cor.
Abril abriu-nos a Rua e deu-nos Avenidas de Esperança, que neste abril se encheram de gente de todas as idades e credos.
2. Meio século depois já é possível, com distanciamento e racionalidade dizer que só a liberdade e o regime democrático que o 25 de Abril nos trouxeram permitiu ter este Portugal diferente, muito melhor, com um efetivo sistema de proteção social de cidadania que engloba a ação social, a solidariedade e a proteção familiar a par de um sistema previdencial.
3. Somos hoje um Portugal mais desenvolvido onde co -existem todo o tipo de famílias sem atavismos ou preconceitos porque cada um é livre de amar quem quiser... e onde as mulheres aspiram legitimamente à igualdade de oportunidades em todos os campos e domínios porque só assim a Democracia é plena.
4. Ao assinalarmos os 50 anos da Revolução dos Cravos, que nos trouxe uma novo quadro de direitos, liberdades e garantias plasmado na Constituição, devemos sobretudo focar-nos nas sementes prateadas germinadas para o futuro, para que cresçam e floresçam.
5. O pior que pode acontecer em Democracia é sem dúvida deixar que a mesma perca fôlego, que seja sombra em vez de luz. O pior que pode acontecer ao Sistema Democrático é que o mesmo se torne aparência e fiquem ocos os direitos, as liberdades e as garantias que tanto custaram a conquistar e a consolidar.
6. Temos receio sempre do que não sabemos num quadro de grandes incertezas e imprevisibilidade, mas sabemos pelo menos, que temos grandes desafios ao nível das migrações, do clima, da demografia e na transição digital.
Acresce que, como socialistas e não deterministas temos o desafio persistente do combate a todas as desigualdades e violências, para as quais desenvolvemos sempre que governamos, políticas públicas progressistas e que na oposição igualmente saberemos reforçar.
7. Temos ainda que tornar incessante a busca pela paz e desenvolvimento num mundo onde se entrecruzam mais de 28 conflitos armados que provocaram deslocações forçadas de mais de 110 milhões de pessoas, na sua grande maioria mulheres e crianças.
8. Acresce que, quando alguns desses refugiados ou imigrantes (escassos milhares ) nos solicitam anualmente proteção internacional ou apenas sonham com uma vida e emprego melhor, temos o imperativo internacional e ético de os incluir e acolher de forma “ escancarada” com dignidade e solidariedade até porque a sua força cultural e os contributos económicos e demográficos que nos dão, são também a nossa força como País intercultural, tolerante e aberto ao mundo .
9. Tal como observou recentemente, o Conselho Português para os Refugiados tem sido produzido um discurso tendencialmente alarmista centrado na necessidade de conter e limitar o número de requerentes e não na sua proteção — os números em Portugal desmentem-no claramente pois Portugal continua a ser um dos países da União Europeia com menor número de pedidos de proteção internacional apresentados anualmente (em 2022 foram comunicados 2136 de pedidos de asilo e em 2023 foram comunicados pelo SEF/AIMA 2565 pedidos), um aumento de cerca de 20%.
10. Urge no entanto, recuperar as quase 400 mil pendências e apostar tudo no reforço tecnológico e de recursos humanos da nova Agência do Asilo, sob pena das críticas legítimas em virtude dos grandes atrasos poderem dar abrigo a reversões e a recuos perigosos neste domínio. Há quem esteja desejoso de o fazer.
11. É esse exercício de cidadania ativa e livre da “poluição populista” que cada um de nós, a seu modo, é desafiado a fazer
12. Estes são tempos de pensar novos desafios para os territórios e regiões.
Estes são tempos de exigirmos novas formas de organização internacional, capazes de "governar" num mundo que é hoje um jardim devastado nas palavras de llansol , onde há opressão , guerra e tortura e violações diárias aos direitos inscritos na declaração universal .
13. É preciso, todos os dias sermos força de Abril? Sim! Sim!
Mas acima de tudo é preciso uma revolução dentro de nós, só assim seremos “Abril por fora e por dentro”.
Temos de continuar a ser como disse Ary “ um mar de vozes livres sempre a crescer … a crescer… que das espingardas fez livros para aprendermos a ler “ .
Que esse mar de vozes livres cresça para afirmar a política como o espaço das ideias que “sonham bagos de romã” ...que Abril nunca nos falte e sobretudo que nós nunca faltemos aos valores de Abril!
Susana Amador
Dirigente Nacional PS