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27 Mar 2024

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Opinião

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Simões Ilharco

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31.01.2018

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DEIXEM-SE DE TRICAS E FALEM DO QUE É RELEVANTE

Sempre defendi o acordo de esquerda, mesmo depois da vitória de Rui Rio no PSD e da sua aproximação ao PS, mas penso que o BE e PCP estão a utilizar uma linguagem imprópria de apoiantes do Governo e, como tal, difícil de aceitar.

 

Catarina Martins, por exemplo, não satisfeita por, há pouco tempo, ter acusado o PS de ser permeável aos interesses económicos, diz, agora, que seria 'tonto' não aumentar os salários em 2019, como defendeu Joao Galamba, em entrevista recente à TSF/Dinheiro Vivo. O porta-voz dos socialistas disse, aliás, uma grande verdade: nunca se deve ir depressa de mais, porque podem ficar em causa os passos já dados e ter-se que voltar para trás. Joao Galamba afirmou, ainda, que já houve o descongelamento das carreiras na Função Pública e que os trabalhadores compreenderão, por certo, caso não haja aumentos - hipótese que não excluiu totalmente - que não pode haver tudo. 

São palavras sensatas e prudentes do porta-voz do PS, que não mereciam, a meu ver, a reação intempestiva e pouco cordata da coordenadora do BE. Compreendo que o Bloco se exprima com agressividade, própria do seu quadrante ideológico, mas uma coisa é estar na oposição, outra, bem diferente, é ser apoiante de um Governo. Ter dois pesos e duas medidas nem sempre é defeito. No caso vertente, a que aludo, seria até uma virtude. Não compreendo, também, a afirmação de Jerónimo de Sousa, secretário-geral do PCP, de que há o perigo da retoma do bloco central. Depois de o primeiro-ministro ter dito, com toda a clareza, o mesmo caminho, com a mesma companhia, não percebo onde Jerónimo quer chegar. Disse, ainda, o líder comunista, noutra alusão aos socialistas, que ser de esquerda não é fazer convergência com o PSD e CDS. Mas a convergência do PS é só com o PCP e BE, não com a direita.

O que os socialistas procuram são consensos, nomeadamente com o PSD. E a palavra consenso foi sempre de esquerda, genuinamente democrática. E quanto mais amplo for o entendimento, mais democrático é. Impor as decisões é que próprio da direita e antidemocrático. O PCP, como partido de esquerda e democrático, deveria ver com bons olhos a busca de consensos por parte do PS. Por uma razão acrescida: faz parte deles! Ninguém quer no PS substituir o acordo de esquerda pelo bloco central. O primeiro-ministro tem dito que em equipa que ganha não se mexe! E mesmo se tiver maioria absoluta deseja continuar a entender-se com os partidos à sua esquerda. O que se pede a estes, agora, não é a perda da sua identidade, mas uma linguagem consentânea com a sua condição de partes integrantes de um acordo, que é o suporte de Governo, que tem provado ser bastante competente e eficaz.

Caso contrário, com a sua postura atual, é que podem mesmo estar a abrir a porta ao bloco central, para gaudio da direita. Seria uma solução política, como tenho dito, que ficaria muito aquém dos ganhos políticos e sociais do acordo de esquerda. Da janela de esperança que ele abriu. Regressado de Davos, onde captou o importante investimento da Google, que cria 500 novos postos de trabalho, o primeiro-ministro reiterou toda a confiança em Mário Centeno, dizendo que continua no Governo. A grande ilação a extrair, quando se questiona um ministro como Centeno, a quem o país tanto deve, e que é Presidente do Eurogrupo, é, sem dúvida, o baixíssimo nível da maioria da nossa comunicação social, embora haja títulos de referência, que são exceções. Uma imprensa, escrita e falada, que tem como temática os bilhetes para o Benfica, os e-mails e as raríssimas, bem deveria ver-se ao espelho.

Que bom seria para o país que falasse mais de coisas bem relevantes e menos de tricas ou fait-divers. Do investimento da Google, por exemplo - o gigante tecnológico, como lhe chamou o meu camarada Fernando Alves na TSF. Ficaríamos todos mais gigantes. 

 

AUTOR

Simões Ilharco

DATA

31.01.2018

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EDIÇÃO Nº1418
Janeiro 2024