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27 Mar 2024

| diretor: Porfírio Silva

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Opinião

AUTOR

Carla de Sousa Miranda

DATA

06.06.2017

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Música rima com ambiente

As agendas de verão de cada um programam-se ao ritmo dos festivais de música onde queremos estar. Por todo o país, diversos balanços impõem-se e as pessoas aglomeram-se em volta de artistas e bandas aos magotes. Depois da festa, saímos ao som da música. 

 

Os festivais são divertidos – encontramos amigos, gente que se tinha perdido no tempo, fugimos do ritmo do dia a dia para ir ao encontro das músicas que conhecemos ou enfrentar novos desafios musicais. Saímos habitualmente melhor com a vida do que quando entramos. E quando saímos, levamos as memórias. Se nos perguntámos quem lida com todo o lixo que fica pelo chão e com o desperdício, então é provável que estejamos a sentir a ‘culpa de ambientalista’. Porque o rasto fica lá: copos de plástico, os guardanapos, pratos com desperdícios, casas de banho a transbordar e, se o festival for ao ar livre, a relva fica tão morta quanto os corpos que dançaram. 

O impacto negativo no ambiente é assustador, a pegada ambiental de cada visitante é 1,8 superior, quase o dobro dessa mesma pessoa enquanto cidadão normal. 

A montagem de um festival de música requer uma grande quantidade de elementos. Roulottes são levadas para o local com comidas e bebidas, torres de luz, geradores, milhares de cabos, tanques de água, sinalética, palcos, grades, casas de banho temporárias, baldes do lixo. Tudo isto precisa de ser transportado de um sítio para outro. Na envolvente criam-se parques de estacionamento e até paragens provisórias de autocarro. A pegada ambiental no período de montagem já é suficientemente grande. Depois entramos nós e os artistas e enfim… o filme do desperdício está completo.  

A pegada ambiental festivaleira não é preocupação nova mas é tema urgente. Uma população cada vez mais sensibilizada para os problemas ambientais, uma aceitação da indústria dos eventos em comprometer-se diretamente com o desafio de garantir festivais sustentáveis e um reconhecimento de que o esforço na área pode reduzir custos operacionais, é o ambiente perfeito para experienciar boas práticas no comportamento dos dois milhões de pessoas que visitaram festivais o ano passado em Portugal.  

Daí a importância do projeto “Sê-lo Verde”. O concurso lançado pelo Ministério do Ambiente com o apoio do fundo de fomento ambiental terá os resultados da sua 1ª edição em 18 festivais deste Verão, com medidas de sensibilização para a proteção do ambiente, melhoria na eficiência energética, de redução no impacto ambiental e promoção de uma melhor gestão de recursos.

Festivais como o Milhões de Festa, Paredes de Coura, Bons Sons e Terras Sem Sombra, Alive, o Marés Vivas, o Primavera Sound, o Med Loulé, o Festival Forte, o Flower Power Fest Cascais, o Cale e Sangriagosto, o Greenweek, o Monte Verde Festival, o OceanSpirit, o Museum Festum, o Quintanilha Rock, o Vagos Metal Fest, o Douro Rock, o Being Gathering, o Rodellus Music Festival e o NEOPOP Festival, são festas musicais onde estarão presentes 96 medidas de caráter ecológico, representando um total de 1,5 milhões de euros, das quais o programa “Sê-lo Verde” apoiará 65 medidas num valor de 472 mil euros.

São projetos que representam melhorias substanciais para a sustentabilidade: utilização de bilhetes eletrónicos, painéis solares, iluminação led ou barreiras de som construídas a partir de resíduos navais. 

Na próxima semana as tribos musicais deslocam-se para mais uma edição do Primavera Sound, no Parque da cidade do Porto. E à festa da música juntam-se os acordes de um festival ainda mais sustentável do que o do ano passado: embalagens biodegradáveis de fibra natural, copos reutilizáveis, cinzeiros portáteis e as casas de banho ligadas à rede pública de saneamento. 

Um passo grande que ainda pode fazer mais caminho. As boas práticas festivaleiras dizem-nos que é possível fazer compostagem no espaço do festival, que à entrega de depósito de garrafas vazias pode equivaler a oferta de uma cerveja ou de um chá, que é possível utilizar produtos reutilizáveis que requerem menos energia a produzir. Alguns festivais oferecem junto dos palcos a possibilidade de recarregar as garrafas de água. Outros oferecem as tendas deixadas pelos campistas às associações de solidariedade. 

Esta é uma verdadeira mudança que se está a fazer na indústria de diversão, numa parceria com o poder político, em prol da visão comum de um planeta sustentável, tão bem sintetizada pelo músico Anhoni no último Primavera Sound. São “só quatro graus” a mais para sofrermos consequências catastróficas e nós não somos dos que negam as alterações climáticas. Nós tentamos não acrescentar nem mais um grau.

AUTOR

Carla de Sousa Miranda

DATA

06.06.2017

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EDIÇÃO Nº1418
Janeiro 2024