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19 Abr 2024

| diretor: Porfírio Silva

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Opinião

AUTOR

Gabriela Canavilhas

DATA

13.07.2016

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Job for the boy da Europa

Ao longo de anos, incluindo os 10 anos em que Durão Barroso foi presidente da Comissão Europeia, a Goldman Sachs tem tido nos seus quadros uma grande quantidade de ex-governantes de diferentes países e alguns dos mais altos responsáveis pelas principais instituições europeias:  Mário Drahgi, Romano Prodi, Mário Monti, Papademos são alguns dos seus exemplos mais conhecidos.  

 

É simultaneamente um estado supra-estados e um estado dentro-dos-estados. O seu imenso poder domina o coração das finanças de Wall Street ou da City e os seus tentáculos estendem-se à escala global. Nesta matéria, a realidade ultrapassa a ficção e dificilmente a imaginação consegue acompanhar o alcance planetário das movimentações conspícuas entre a alta finança, a geopolítica e os compadrios formados no seu seio. 

A culpabilidade da Goldman Sachs (GS) na gravíssima crise financeira que o mundo atravessa é inequívoca e é pública, confirmada nomeadamente na investigação da Securities and Exchange Commission dos EUA, que a acusou de fraude por ter criado e vendido ativos tóxicos aos seus clientes e de ter pago dividendos altíssimos a políticos que a favoreceram durante a crise do sub-prime. 

Também foi esta instituição financeira que ajudou a Grécia a enganar a UE a esconder os seus deficits para entrar na Zona Euro. Criando “swaps” cambiais com taxas de câmbio fictícias, permitiu que Atenas aumentasse a sua dívida sem reportar esses valores a Bruxelas, cobrando uma fortuna por esta engenharia financeira. Segundo o “Der Spiegel”, em 2005, a GS vendeu os “swaps” a um banco grego, protegendo-se e atirando deliberadamente o perigo de volta para uma Grécia que se afundava e que iria arrastar consigo todo um sistema financeiro, afetando vários países europeus. 

Estes dois casos, entre outros, teriam sido o suficiente para abalar a credibilidade desta instituição financeira aos olhos da Europa. Mas assim não foi. Numa União Europeia conduzida por um líder fraco, cinzento, sem resposta perante a crise que o sistema financeiro criou à Europa, sem reação aos desafios complexos que se colocaram à moeda única, sem visão de futuro (exceto do seu próprio, tendo em conta que abandonou o cargo de PM eleito para aceitar outro, pessoalmente mais favorável), Durão Barroso, o homem conveniente porque não interveniente, não impediu sequer que a GS fosse escolhida para assessorar o Fundo de Estabilização Financeira no processo de compra de dívida soberana de países (Portugal, Irlanda) ao abrigo do programa de assistência financeira da EU.  

A Europa ajoelha-se à Goldman Sachs e ela agradece.

AUTOR

Gabriela Canavilhas

DATA

13.07.2016

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EDIÇÃO Nº1418
Janeiro 2024