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27 Mar 2024

| diretor: Porfírio Silva

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Opinião

AUTOR

António Correia de Campos

DATA

09.12.2015

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A honra perdida da Direita

Primeiro foi a tristeza, logo na noite eleitoral, comemoração tímida, sabia-se da perda dos 700 mil e da maioria parlamentar. Depois, o estupor. Não era possível, garantida a coligação para sempre, o PS estragar a festa, bandeando-se com a sua esquerda! Por fim, a reação violenta, rasgando vestes e arrepelando cabelos. Passada a crise inicial, veio a negação: a bolsa iria cair na lama, o spread da dívida soberana subiria para o dobro ou o triplo, as agências de rating, enfurecidas, baixariam a menos de lixo as cotações do País. A Europa rejeitaria um governo de coligação feito com a Esquerda que tão mal dela dizia.

 

Depois, as forças institucionais e morais não o consentiriam. O Presidente recusar-se-ia a empossar um governo das esquerdas. A Igreja adotaria a resistência passiva. O Povo rebelar-se-ia contra os usurpadores. Por fim, o novo Presidente, que a Direita ungia em Marcelo, convocaria eleições imediatas, correndo com os vilões. Em menos de seis meses Costa cairia. O sonho sebastiânico de um derrube rápido teria tudo para ser verdade. E se tal não acontecesse, um governo de esquerdas, sem coesão firmada em longos e laboriosos pactos, desfazer-se-ia em contradições internas. Sindicatos, PCP e BE jamais se entenderiam para além de três meses, o tempo necessário para digestão do primeiro banquete das vitualhas que a Direita julgava ter deixado.

E nada aconteceu como previam. A bolsa desceu e logo depois subiu, a toque dos especuladores do short selling. O spread da dívida aguentou a pé firme, com as oscilações próprias de um mercado europeu escorado em Draghi. As agências de rating traíram a Direita lusa, mantendo as cotações. A Europa, que já conhecia Costa, acolheu-o com prazer e não viu em Centeno o fantasma de Varoufakis. O Presidente tartamudeou, ameaçou e engoliu em seco. Da Igreja, sábia de História, quase não houve reação. O Povo não se revoltou e Marcelo, forte candidato a Presidente, deitou por terra as derradeiras esperanças. Dele só podem esperar estabilidade! À esquerda o direito a pensamento próprio foi garantido, a disciplina mantida, as greves desconvocadas, depois das indispensáveis negociações. Para cúmulo, sondagens dão o PS, Costa e o Governo a subirem, o PSD, Passos e o doutor Cavaco a descerem. O CDS a entrar no perigoso lote dos de menos de 5% de votos, de partido táxi a partido tuc-tuc.

Tudo saiu ao contrário do que a Direita imaginava, contra o que sonhara e arquitetara com mentiras e falsas promessas. Claro que tudo pode virar, erros serão cometidos, sonhos de desforra acalentados. O ajustamento dito estrutural pode regressar à banca da política europeia. Todavia, o que importa é a tendência, o clima e este não corre para a direita. Para recuperar a honra perdida ela vai precisar de tempo, muito tempo, e de novas caras. E de desfazer casamentos que já lhe não trazem bons ventos. 

 

AUTOR

António Correia de Campos

DATA

09.12.2015

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EDIÇÃO Nº1418
Janeiro 2024