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26 Abr 2024

| diretor: Porfírio Silva

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Opinião

AUTOR

António Correia de Campos

DATA

04.11.2015

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Sim ou sopas!

A direita recuperou fôlego com as notícias de que o PS ainda não descartara a possibilidade de deixar passar o governo atual, caso não conseguisse apresentar uma forma governativa estável e duradoura.

 

Passos Coelho afinal estaria disponível para continuar a chefiar o governo em gestão. Deve estar a rezar – a direita reza muito – o que lhe dará tranquilidade para refletir sobre a sua deriva extremista de quatro anos de radicalismo, empobrecimento e maus tratos aos humildes. A fazer fé nas declarações proféticas do novo ministro da Administração Interna, é possível que a direita venha a culpar Deus da sua saída do poder e a procurar no mercado um seguro para acidentes políticos naturais futuros. 

A direita, grande e contumaz pecadora, tem dificuldade em realizar exames de consciência. Ainda não engoliu a sua posição minoritária saída das eleições de 4 de Outubro. Agarrou-se a supostas tradições: que o governo seria sempre constituído pelo partido que recolheu mais votos, mesmo que contra ele existisse uma maioria unânime, o que nunca existira na tradição passada; que a tradição obrigava a que o presidente do Parlamento fosse também desse partido, contra o que chegara a ser sua proposta em esponsais frustrados – a eleição de Ferro Rodrigues - para virar de bordo e tentar a não-eleição de Ferro. Se o atual governo for derrubado para a semana, lá estará a direita a propor nova tradição: a de um presidente sem poderes de dissolução manter em funções um governo derrotado no Parlamento, ao longo de seis meses decisivos, recusando mesmo enviar orçamento a Bruxelas, até que chegue um novo presidente e lhe satisfaça a sua mais íntima aspiração: novas eleições para reverterem o seu estado de desgraça. E até arrepela cabelos e rasga vestes quando o seu ditoso candidato a Presidente parece querer trocar-lhe as voltas, caso seja eleito.

Com os dislates da direita todos estamos a sentir-nos bem, são até os seus tenores que lamentam o desassossego e a incoerência. Agora temos é que olhar para a nossa trincheira e mesmo para a nossa casa. Na trincheira ainda não há comunicação capaz e a que existe dá sinais de uma relutância essencial. É natural: tudo deve continuar em aberto até tudo ter sido fechado. É tão bom que as partes demorem a entender-se, como tão mau que elas se desentendam logo ao primeiro arrufo. Mas o tempo conta e a incerteza gera intriga e erosão de confiança entre partes. No final da semana tudo tem que estar em pratos limpos. Ou sim ou sopas! E se for sopas, a vida continua embora se lamente a ocasião perdida.

Quanto à nossa casa, parece que os protagonistas do plural não encontraram melhor ocasião para se conjurarem que no fim- de-semana decisivo. Podiam ter esperado, podiam ter antecipado, valha-nos Deus! Como desabafaria o ministro da administração interna, se fosse com ele. Com amigos destes, ninguém precisa de inimigos, nem até de adversários.

AUTOR

António Correia de Campos

DATA

04.11.2015

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EDIÇÃO Nº1418
Janeiro 2024